Por Raquel Carmo*
Setembro é o mês de prevenção ao suicídio. Este é o tema da campanha Setembro Amarelo, liderada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
A iniciativa acontece anualmente desde 2014, e hoje é considerada a maior campanha antissuicídio do mundo.
Mas você pode estar se perguntando: “Por que estamos falando sobre isso?”.
Porque, infelizmente, um ambiente de trabalho tóxico pode levar ao desenvolvimento de transtornos psicológicos, que por sua vez são responsáveis por quase 97% dos casos de suicídio, segundo pesquisas. Em números gerais, a depressão atinge aproximadamente 11,5 milhões de brasileiros, o que equivale a 5,8% da população. É o maior índice da América Latina e o segundo maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos
Segundo dados do Governo Federal, a depressão é o segundo maior motivo de afastamento do trabalho, atrás apenas da lesão por esforço repetitivo (LER). E a Organização Mundial de Saúde alerta para a possibilidade da doença se tornar a número 1 em breve.
Diante de um cenário tão preocupante, nosso objetivo é levantar a discussão sobre o papel das empresas na prevenção ao suicídio e quais atitudes podem ser tomadas para oferecer um espaço em que o colaborador se sinta bem e possa desempenhar seu trabalho de maneira saudável.
Elaboramos uma lista com 5 itens, confira abaixo:
De maneira geral, uma relação positiva entre funcionários e entre eles e seus líderes traz um sentimento maior de satisfação no trabalho e, consequentemente, diminui as chances de alguém desenvolver sintomas de depressão.
Não é necessário que todos os colaboradores sejam amigos íntimos uns dos outros, mas estudos indicam que ter amigos no trabalho aumenta até mesmo a produtividade das equipes.
E qual o papel da empresa nesse caso?
Promover o bom ambiente no escritório, por meio de feedbacks, remuneração adequada, atividades em equipe e respeito aos direitos dos funcionários.
Não é uma surpresa que as jornadas de trabalho em demasia causam um impacto negativo na saúde mental dos colaboradores, certo?
De acordo com a OMS, no entanto, as consequências podem ser devastadoras também para a saúde física dos trabalhadores. Quem tem uma jornada semanal acima de 55 horas semanais possui chances 17% maiores de sofrer ataque cardíacos e 35% mais risco de morrer após um acidente vascular cerebral (AVC).
Ou seja, a pressão e as longas horas extras podem ocasionar diversas doenças físicas e mentais.
Quando mencionamos o bom ambiente de trabalho no primeiro tópico, também incluímos aí questões mais práticas da rotina do trabalhador, como reconhecimento e salário compatível com as tarefas e responsabilidades.
Você já leu em nossa newsletter semanal que a insatisfação tanto com os rendimentos mensais quanto com a liderança direta são dois dos principais motivos que levam os trabalhadores a pedir demissão. Agora sabe que também são questões essenciais para a qualidade de vida e a saúde mental dos colaboradores.
Segundo diversas pesquisas das mais diferentes fontes, os grupos minoritários são mais suscetíveis ao suicídio. Esta é a principal causa de morte entre os povos indígenas no Brasil e o índice de tentativas suicidas entre os indivíduos LGBTQIA+ é de 2 a 7 vezes maior do que o observado entre os heterossexuais, apenas para citar dois exemplos.
Portanto, é fácil chegar à conclusão de que um dos deveres das empresas é proporcionar um ambiente seguro (“safe space”, como o conceito ficou mais conhecido em inglês) para que seu colaboradores podem ser quem eles são, sem qualquer tipo de discriminação étnica, racial, religiosa, de gênero, de orientação sexual etc.
Inclusive, a diversidade faz bem tanto para a saúde mental dos funcionários quanto para os bolsos dos donos. Um famoso estudo realizado pela McKinsey & Company comprovou que empresas com diversidade étnica e racial têm 35% mais chances de ter rendimentos acima da média no seu setor, enquanto organizações com diversidade de gênero têm uma possibilidade 15% maior de apresentar rendimentos acima da média.
Se fôssemos agrupar todos os tópicos já explanados em apenas um, poderíamos resumir tudo em uma questão de cultura organizacional.
Em linhas gerais, a cultura de uma empresa se resume às crenças, aos valores e às normas que influenciam o clima de uma empresa. E é essa cultura que guia e alinha os comportamentos dos funcionários durante sua jornada de trabalho.
Portanto, uma empresa onde os funcionários se sentem obrigados a fazer diversas horas extras todos os dias ou recebem uma quantidade excessiva de pressão por metas e resultados impossíveis de serem atingidos possui uma cultura negativa e tóxica.
Isso pode ser o gatilho para o desenvolvimento de doenças psicológicas, como ansiedade e depressão. Essas, por sua vez, se não tratadas e acompanhadas de perto por um profissional capacitado, podem levar ao suicídio.
*Raquel Carmo é Coordenadora de Pré-Vendas na Linte e psicóloga pela Universidade Estácio, CRP 58057.